sexta-feira, 25 de abril de 2008

A casa doente


A casa cheia, hoje está vazia.


Mais um fim de semana igual os demais. Um fim de semana sozinho, num mundo replecto de gente, na terra que me acolheu por piedade, na minha casa, naquela que hoje está só. A nossa vida já não é o que era...Viviamos rodeados de amigos, aqueles com quem crescemos, que tiveram filhos e nos convidaram para padrinhos. Tínhamos sempre os fins de semana ocupados...não tinhamos tempo para nós...os dois...lembraste? [talvez seja esta a causa]


Quando o sonho desaparece...


Os nossos amigos de hoje, não são os amigos de sempre...[sabes porquê? eu não...] O sonho desapareceu. Conhecemo-nos ainda na Faculdade, tu eras a menina das letras, eu das ciências...tu gostavas de romances, eu de policiais...tu eras vegetariana, eu nunca disse não a um bom pedaço de carne...tu preferias passar os fins de semana em casa, enroscada em cobertores, eu esperava ansiosamente por sexta para poder sair e divertir-me...os nossos amigos diziam-nos que eramos totalmente o oposto um do outro...nós riamo-nos...[sorrio...]. A vida correu-nos bem...[acredito que sim!] Tu andaste de terra em terra...em trabalho...eu aguentei...não te quero culpar como antes o fiz [desculpa], mas não esperava esta doença...não agora...


A ilusão de um controle...


Eu pensava que te tinha. Pensei que nada nos atingiria...Niguém me explicou que isto aconteceria...ninguém me explicou. Há filhos que não tive, não tenho e não terei, e ninguém me explicou porquê. Culpei-te. As tuas indecisões, o teu medo, o desejo de ascensão na profissão...dizias que eu achava que era tudo fácil, que deixava as responsabilidades todas para ti...nunca acreditei muito nisso. Hoje percebo-te. A casa foi adoecendo...Os nosso amigos, que nos visitavam ao fim de semana, começaram a levar os seus filhos...O controle que sempre tive foi-se desvanecendo. O teu olhar foi-se tornando triste...cada vez mais...O relógio está virado, o teu não é igual ao meu. Não nos entendemos. Sinto-me a queimar...fiz coisas más a gente boa. Não me preocupa se o céu está a cair, sei que não o verei nunca...preocupa-me o nosso, o nosso céu, o nosso tecto, o teu! Perdi o controle...[perdoa]


O jogo de palavras...


O meu jogo não te convenceu. Pedi-te para ficar, comigo, para recomeçarmos...Estou só e velho. Não disseste uma única palavras. O teu olhar e gestos, uma vez mais, disseram-me que era o fim. Chorei, chorei e chorei...e tu foste. Bateste a porta, fiquei a gritar agarrado à maçanete da porta...voltei ao mesmo erro...e perdi-te. Matei a nossa relação, matei a nossa casa, matei a nossa terra. Não mais te vi...hoje sou uma ilusão do que fui, do homem que fui, da pessoa que fui...hoje estou só, sem amigos, sem ti. Hoje não sei quem tu és, não sei onde estás, não mais vi o teu olhar.


Hoje, a casa doente é casa morta.

17 comentários:

Rosi Gouvêa disse...

Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

*Gonçalves Dias*

E mais uma vez venho me encantar...

Bejos doces!

bono_poetry disse...

...e estranho quando a vida termina num labirinto ainda mais apertado e dificil...a consequencia dos passos a infeliz trajectoria...nunca fui de acreditar em destinos pre-fabricados...estava bem condenado...bom texto...mais um menina...parabens!!!

Pedro disse...

É mesmo assim, a vida segue e os amigos dispersam-se...
É tão bom ter tempo para viver! Às vezes a solidão pode ser algo positivo!

Miriette Le Fay disse...

Gostei da parte "Quando o sonho desaparece..."

Estrelinha disse...

Mais um excelente texto! Parabéns

Ant disse...

Algo que nos faz pensar. :$
Beijinho.

Anónimo disse...

Era uma casa doente e não foi encontrada a cura? Mas foi procurada, apesar do fim? Foi um fim inevitável?
Mais do que aquilo que fizemos de mal, valerá o arrependimento e o nosso recomeçar. Se foi feito tudo para isso, então: tranquilidade.

Uma coisinha para ti no meu blog e não é um desafio, é mais um mimo.

Boa semana!

vieira calado disse...

Passei para ler o post e desejar-lhe boa semana.

mar disse...

:P Sabes o que eu achei deste post, achei que não há nada melhor do que a tua prosa para me encher o dia =)

Um sorriso e um abraço em ti*

Anónimo disse...

"Um fim de semana sózinho, num mundo repelto de gente". Casa cheia, casa vazia.
Todo o texto é um misto de antagonismos, mas não será a vida, a nossa e a dos outros isso mesmo?

Também no teu texto se sente a solidão, a desilusão do erro e o medo.

Também a casa doente é a doença de muitas casas, de muitas que acolhem pessoas que também elas se identificam com o personagem do texto.

Gostei muito.
Beijos.

MR. HEAVY disse...

Estou a viver uma situação que revejo nestas tuas palavras: "Eu penasava que te tinha. Pensei que nada nos atingiria... Ninguém me explicou que isto aconteceria...ninguém me explicou"

Ekaterina disse...

Qe casa essa : O ?

Perguntador disse...

Revi-me aqui, com mágoa como é hábito...

nOgS disse...

É uma sensação de impotência quando só se notam certas coisas depois de já nada se poder fazer em relação a elas. Porquê? PorquÊ que não existem manuais para isso?

...


...

...

todas as casas são mortas se não existir amor para as alimentar.


Beijos doces enormes e até domingo, porque vou de fds prolongado a Menorca:P

Beijossss

Sara S. disse...

Porque haverão duas pessoas separar-se por causa de uma discordância? Não deveria o amor ser maior que isso?
De novo um texto belíssimo :)
Um beijinho

Å®t Øf £övë disse...

(Un)Hapiness,
A vida é feita de ciclos, e o amor não foge à regra, por isso como tudo na vida acaba. Este texto fantástico fala-nos disso mesmo, do ciclo de vida de um amor, desde o seu inicio, passando pela sua fase madura, até ao seu declínio. Não se pode lamentar. Tem que se guardar as recordações do que foi bom, e seguir em frente.
Bjo.

Martim disse...

gostei:)
parece k falas sozinha mas na realidade sabes com kem falas e o k falas...
bom fim de semana e obrigado pelas visitas tambem:)
reparei que pusest o meu blog nos que lês, fico feliz por gostares...