sábado, 29 de março de 2008

Cobardia de perguntar...



"Tu só gostas de ti...".
Foram as últimas palavras que ele ouviu. Palavras ditas por ela, aquela que ele amava, aquela que ele sempre viu como sua.

Ele não reagiu [não terá o cérebro receptionado logo a mensagem...ou então, não quis entender]. Sentou-se no sofá que os dois mais gostavam, o sofá mais usado, o sofá [também] mais roto. E chorou.
Pensou. Pensou que a culpa seria dele...e chorou. O silêncio da sua casa [da casa deles] só era interrompido com o som das suas lágrimas, os gritos que, por vergonha, se transformavam em soluços. Ele olhou-a, olhou-a e pedi-lhe um beijo. Ela não respondeu, nem sequer um adeus ele ouviu. A porta fechou-se. [um estrondo...].
O estrondo continua a ser o mesmo...não o estrondo da porta, mas antes o estrondo da sua vida. Não consegiu mais fazer a vida que fazia...Afinal, ele sempre a amou. Nunca se assumiu como sendo de uma só, mas era ela quem amava...Enquanto chegava a casa e a via a cozinhar para si, enquanto chegava à cama e a podia abraçar, beijar, tocar...enquanto a tinha, enquanto podia amar quem amava, também gostava de ter "a sua vida". Não pensava no esforço que ela fazia com os dois empregos, não pensava no quanto ela sofria com as traições, não pensava no esforço que ela fazia para aguentar a relação...Afinal, ele não pensava.

Nunca mais se viram. Nunca mais falaram. Eles, os advogados tratavam de tudo...ele apenas assinava, já não lia os papéis. Não reguateou nada com ela. Deu-lhe o que queria. Ficou na casa, no sofá que os dois amavam. Passou a pensar, a pensar, pensar...pensava no quanto ele se tinha prejudicado, pensava nela, no quanto ela deveria ter sofrido...culpou-se, culpo-se e culpou-se.

Via em todos os cabelos longos, castanhos e encaracolados, os dela...via em todos os perfumes, o dela. Via em todas as mulheres, ela....Nunca mais poderia agarrá-la enquanto ela cozinhava, não poderia, apesar de todas as suas contestações, que o jantar estava a fazer, que o jantar ia estragar-se e tanto tempo tinha estado ali a cozinhar para ele...não poderia mais dançar ao som dos risos...não poderia mais vê-la sorrir. Ele não iria sorrir mais. Pensou que ela poderia perdoar-lhe....mas, e se ela não o fizesse? As dúvidas e os pensamentos assumiram o papel fulcral da sua vida.

Ele não saiu mais de casa...Não poderia mais correr o risco de correr atrás de todas as mulheres que encontrasse na rua. Não pôde mais viver na sua casa, na casa deles. Mudou de casa. Levou apenas o sofá...o sofá deles...Foi para uma casa diferente da deles...talvez assim a esquecesse...Os enguates no bar não corriam bem, não conseguia levá-las pa cama e, quando conseguia, só pensava nela...As mulheres não lhe ligavam mais [não teriam gostado...]

Cansaço. Era a única coisa que ele sentia...Pensou mais um vez em pedir-lhe perdão. Mas, ele sempre foi cobarde...nunca tomou decisões importantes [era ela quem as tomava...]

O peso que sentia era muito. Sentia o Mundo às costas. Pensou que nunca mais a veria e que, assim, o mundo não faria mais sentido. Sentou-se no sofá, aquele onde passava os dias, e pensou na sua única solução. Beijou a fotografia dela, que estava em cima da pequena mesa em frente ao sofá...os únicos objectos que compunham a sua sala...beijou-a ao mesmo tempo que premia o gatilho da arma em que segurava.

Deixou este Mundo. Não soube se ela chorou por ele. Não soube se algum dia ela o perdoaria.
A cobardia de perguntar...


domingo, 23 de março de 2008

A porta vermelha


Segue-me, até ao meu canto. Segue como se fosse teu o caminho que tanto te descrevi. [está atento aos pormenores!] Vê como esta terra se assemelha à vida de campo. Vê e Olha. Olha os sorrisos das crianças que [certamente] estarão a brincar na rua. Vê a vizinha de que tanto te falei [vá, cumprimenta...] Segue o meu caminho. Estás a ver a casa diferente? bah, aquela de que te falei...aquela dos estrangeiros [sim, eu sei, fica muito mal na rua em questão, mas não ligues...pensa nisso mais tarde]. Vês a casa branca [típica sim]. Repara na porta vermelha, repara se tem duas maçanetas na porta...Entra, vá...sem medo. [vontade de bater,não? eu sei, não é todos os dias que vês uma porta assim...mas terás tempo e, além disso, sabes que não te abrirei] Entra! A chave está aí, escondida no sítio mais provável que te ocorrer...tu conheceste-me...tu sabes onde! Entra!


Vê. Nunca a tinhas visto...bah, pegua nela..lê, sem medo!

nunca tinha tido coragem de ta mostrar [cobarde, eu...]. Nunca te quis assumir como meu, nunca pensei se seria para sempre, preferi viver na incerteza, na ignorância, no não querer saber se valia a pena apostar...em ti....

Não chores. Não és homem de chorar mas...olha pa tua direita, olha e serve-te. Deixei-te um cálice pronto...sei que gostas...se não te apetecer, escolhe outra coisa.

Bebe e olha-me..olha-me pelas [minhas] coisas. Permito-te, agora, que me conheças. [desculpa a demora]

Aproveito para te dizer...AMO-TE! Amo-te, como nunca pensei amar. Amo-te por te achar demais para mim. Não mereço o teu amor, e tu sabes...mas, Amo-te.

Agora que sabes amor, agora que me declarei, sorri para mim...sorri, com aquele sorriso que te fecha os olhos [quase] na totalidade...sorri amor, porque amo esse sorriso...

Ah, não ligues à desarrumação da casa, não ligues porque não tive tempo de a arrumar, ou melhor, até tive, mas não a quis arrumar. Quis deixar-te conhecer-me. [Conhece-me!!]


Amor, isto é o que tenho para te dizer...Amo-te e perdooa-me, porque se estás aqui, a ler esta carta que te escrevi é porque eu fui...é porque não aguentei e fui...é porque me matei.

Liga à polícia...estarei aqui, na porta ao lado, na porta vermelha [sim, eu sei...igual à da rua...que queres, achei giro...]. Não a abras tu amor, não a abras porque me matei.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Serei quem julgo Ser?

Bem, a Ignota passou-me este desafio...de me auto-avaliar, de reflectir sobre quem sou, o que faço, e quiça, que lugar ocupo neste mundo...[eu sei, já pareço Alin...lol].
Digo-vos que esta proposta já me foi colocada e mesmo em termos académicos...no entanto, contínuo com deveras dificuldades :)
Ora, o desafio consiste em me atribuir 6 características...boas e más suponho...
Eu sou:
* Emotiva - choro por tudo e por nada, penso que o mundo vai acabar quando ouço palavras duras; choro com filmes, livros ou música; choro por felicidade e tristeza. Tenho dificuldade em manter-me calma e pensar racionalmente. Penso com os sentidos [já diria o poeta]. Não aceito injustiças, não aceito maus tratos, não aceito que me ponham triste. Mas, quando o põem, demostro com raiva, demostro com palavras [ainda] mais duras e depois...vou chorar.
* Reivindicativa - não gosto de me deixar levar. não gosto de não me fazer ouvir. olho as situações e analiso-as bem [acho] e depois, se tenho razão faço tudo para o demonstrar, faço tudo para fazes vingar os meus objectivos. Sou conhecida por arranjar sarilhos, sou conhecida por estar sempre metida em confusões, por reclamar. Mas, não considero isso mau...considero antes que não deixo ninguém "passar-me por cima", se tenho direitos, pk n os fazer vingar?
* Introvertida - bah, tenho de dizer. Peco muito por isso. Não sinto à vontade quando conheço alguém. Nem sempre preciso de estar com alguém. Gosto do meu canto, do meu quarto, da minha cama. Não gosto que me façam perguntas. Gosto que me conheçam sem que eu me mostre prepositadamente. Destesto histerismos. Não gosto que, quem me conhece, leia o que escrevo.
* Sonhadora - mas acordada, pois a verdade é que raramente me lembro do que sonho a dormir. Passo horas a pensar numa vida diferente, num ela, num ele, num nós. Acordo quando tem de ser, mas a verdade é que enredos é comigo...
* Amo Animais - confesso que às vezes mais que pessoas. Não vivo sem a minha cadela. Mas, quando isso acontecer, não penso que terei um desgosto enorme e que, portanto, não quero mais nenhum. Não percebo quando as pessoas dizem isso. Não é muito mais gratificante quando podes ajudar outro animal, adoptando-o? Sim, pk sou contra pagar balúrdios por um animal..tal como não se paga por uma criança, pk pagar um animal?
* Difícil - bem, difícil encontrar o termo certo. Mas, às vezes sei que sou chata, sei que quando cismo com alguma coisa, acabo por ser chatita. Não gosto que se metam na minha vida, não gosto que me digam "avisei-te", não gosto que me digam quando e como fazer. E, por isso, costumo responder agressivamente. Não tenho paciência para toda a gente, principalmente para os mais "chegados". [estou a tentar moderar a sério...]. Não tenho paciência para crianças aos berros, irritam-me ainda mais os pais delas. Não aceito que me atendam mal e, por isso, reclamo. Mas bah, isso era no outro ponto...
Bem, esta sou eu..resumidamente...difícil este processo de auto-análise. Tanto ficou por dizer...Terei dito só aquilo que penso que devia dizer?hum...

quinta-feira, 13 de março de 2008

A tua sombra em mim

Vejo-te todos os dias…sei a hora a que acordas, e tu sabes que sim. Olho-te de longe, mas sei que o sabes. Sei a hora a que acordas, sei quando sais do banho, sei quando, nua, pões creme no corpo. [e tu sabes que sim…]. Vejo o teu corpo, as formas que te tornam tão bela…não és uma mulher como as outras. Não tens ninguém. Vives para mim. Prolongas o momento em que tocas nesse corpo. Não tens marca de bikini, não tens corpo de modelo, mas és a mais bela de todas.
Tic-Tac
Está na hora de ires. Este momento dura uma eternidade na minha vida, sinto-te minha, sinto-te como se te tocasse com as tuas mãos. A luz que te ilumina [propositada?]
Tic-Tac
Mais uma manhã. Voltarei à tua hora e tu, tu estarás aqui [aí] à minha espera, terás mais um momento [nosso].
Tic-Tac
Voltei. Voltaste. Vamos jantar. A música que ouves, não a ouço, mas sei qual é. Demonstras-me pelo modo como andas, pelos gestos que fazes, pelo olhar que vejo sem ver [malditas cortinas]. Sinto-o. És alegre assim, e eu sou-o por ti. Vivemos a rotina de todos os dias, vivemo-la um para outro. Nem sempre te vejo amor, às vezes apenas te sinto, outras vezes apenas vejo a tua alma através da tua sombra. Estava sozinho até chegares [o que te levaria a mudar de casa?] Não interessa. Chegaste à minha vida e és minha.
Tic-Tac
Os dias passam. Tudo se mantém. Tu és minha e eu sou teu. Mas…sinto-te triste. [Sempre estivemos tão bem!...] Será que queres outra vida? Será que preferes ver-me? Tenho medo, amor, tenho medo que a nossa felicidade acabe…eu conheço-te tão bem. E tu sabes disso [apesar de o difarçares…]. Estou inquieto.
Tic-Tac
Não acordaste à mesma hora…
Tic-Tac
Que se passa amor? Não sei que fazer! Estou desesperado…és a minha mulher e nada sei de ti! Onde estás? Ai, que injustiça de vida…és minha e não sei de ti, és minha e não posso procurar ajuda da polícia, és minha e não estás.
Tic-Tac
Não durmo há uma semana. Olho a tua janela. Não se altera. Quererás que vá aí? Será esse o teu objectivo?
Tic-Tac
Polícia à tua porta. Ambulâncias. Levam-te amor. Que se passou, que não me apercebi? Pensei que te conhecia. Afina…afinal tu não te mostravas para mim, eu não era teu. Afinal, eu apenas te observei, não fomos um casal. Afinal, apenas tu despertaste interesse em mim. Afinal, a tua solidão não era por me pertenceres. Afinal, tu eras apenas infeliz. Afinal, estavas apenas sozinha.
Tic-Tac
Tic-Tac
Tic-Tac

O tempo não pára. Tu preencheste-o até então. Mas, e agora? A tua sombra não faz mais perto de mim.
Tic-Tac
[Espero que voltes?]

domingo, 9 de março de 2008

Onde ninguém sabe o meu nome

Deitada neste chão, sinto-me perdida. Sozinha já não sei porquê...olho-os [sinto-me tonta]. Não me lembro de nada...
Um olá não correspondido. O choro dela. [porquê?]. O refúgio dele. O olhar dela...
Foram embora.
Que fiz eu? sinto que ninguém me conheçe, eles não querem saber quem sou. Destruí tudo à minha volta. Porquê preocurar-me com o que eles pensam? Têm direito de me olhar assim? Eu não preciso de niguém...eu tenho dinheiro para mim! De que preciso mais?
Eu amo-o. Não o tenho por eles e agora, agora os olhares, as palavras duras!! [Ingratos!!]
Fiz tudo por eles, dei-lhes tudo. Tou farta que me digam o que fazer. Nem a morte me quer. Bebi o teu veneno e não morri. Dizem que devo ter vergonha? que devo deixá-lo com ela, que devo olhar para eles?
Faço de conta que te tenho nos meus braços, assola-me à memória o calor que sentia quando te tinha. Invento-te na minha vida. Mas aqueles não me deixam! odeio-os! Amor, volta para mim. Só preciso de ti...o amanhã, amor, trará sol à nossa vida. Só os dois, sem eles, sem elas, os dois.
Não vens...também não preciso de ti!! Sei agora que é o princípio do fim. Eu sou livre e, hoje, morro por ti, morro sem ti, morro sem eles [sei-o agora], perdi-os por ti e morro sem mim.
Vivi na esperança de ter alguém que olhasse para mim. Morro agora sozinha.
Sei-o agora, estendida neste chão, o mal que fiz. Não pertenço a este mundo. Sinto-me mais tonta. [Espero que desta vez o alcóol e os medicamentos funcionem.]
Este é o meu último adeus.
Lágrima salgada esta. Sinto-me alegre como há muito não sentia.
Vou...para onde ninguém sabe o meu nome.
Ao som de,
Antony And The Johnsons - Hope Theres Someone.