"Tu só gostas de ti...".
Foram as últimas palavras que ele ouviu. Palavras ditas por ela, aquela que ele amava, aquela que ele sempre viu como sua.
Foram as últimas palavras que ele ouviu. Palavras ditas por ela, aquela que ele amava, aquela que ele sempre viu como sua.
Ele não reagiu [não terá o cérebro receptionado logo a mensagem...ou então, não quis entender]. Sentou-se no sofá que os dois mais gostavam, o sofá mais usado, o sofá [também] mais roto. E chorou.
Pensou. Pensou que a culpa seria dele...e chorou. O silêncio da sua casa [da casa deles] só era interrompido com o som das suas lágrimas, os gritos que, por vergonha, se transformavam em soluços. Ele olhou-a, olhou-a e pedi-lhe um beijo. Ela não respondeu, nem sequer um adeus ele ouviu. A porta fechou-se. [um estrondo...].
O estrondo continua a ser o mesmo...não o estrondo da porta, mas antes o estrondo da sua vida. Não consegiu mais fazer a vida que fazia...Afinal, ele sempre a amou. Nunca se assumiu como sendo de uma só, mas era ela quem amava...Enquanto chegava a casa e a via a cozinhar para si, enquanto chegava à cama e a podia abraçar, beijar, tocar...enquanto a tinha, enquanto podia amar quem amava, também gostava de ter "a sua vida". Não pensava no esforço que ela fazia com os dois empregos, não pensava no quanto ela sofria com as traições, não pensava no esforço que ela fazia para aguentar a relação...Afinal, ele não pensava.
Nunca mais se viram. Nunca mais falaram. Eles, os advogados tratavam de tudo...ele apenas assinava, já não lia os papéis. Não reguateou nada com ela. Deu-lhe o que queria. Ficou na casa, no sofá que os dois amavam. Passou a pensar, a pensar, pensar...pensava no quanto ele se tinha prejudicado, pensava nela, no quanto ela deveria ter sofrido...culpou-se, culpo-se e culpou-se.
Via em todos os cabelos longos, castanhos e encaracolados, os dela...via em todos os perfumes, o dela. Via em todas as mulheres, ela....Nunca mais poderia agarrá-la enquanto ela cozinhava, não poderia, apesar de todas as suas contestações, que o jantar estava a fazer, que o jantar ia estragar-se e tanto tempo tinha estado ali a cozinhar para ele...não poderia mais dançar ao som dos risos...não poderia mais vê-la sorrir. Ele não iria sorrir mais. Pensou que ela poderia perdoar-lhe....mas, e se ela não o fizesse? As dúvidas e os pensamentos assumiram o papel fulcral da sua vida.
Ele não saiu mais de casa...Não poderia mais correr o risco de correr atrás de todas as mulheres que encontrasse na rua. Não pôde mais viver na sua casa, na casa deles. Mudou de casa. Levou apenas o sofá...o sofá deles...Foi para uma casa diferente da deles...talvez assim a esquecesse...Os enguates no bar não corriam bem, não conseguia levá-las pa cama e, quando conseguia, só pensava nela...As mulheres não lhe ligavam mais [não teriam gostado...]
Cansaço. Era a única coisa que ele sentia...Pensou mais um vez em pedir-lhe perdão. Mas, ele sempre foi cobarde...nunca tomou decisões importantes [era ela quem as tomava...]
O peso que sentia era muito. Sentia o Mundo às costas. Pensou que nunca mais a veria e que, assim, o mundo não faria mais sentido. Sentou-se no sofá, aquele onde passava os dias, e pensou na sua única solução. Beijou a fotografia dela, que estava em cima da pequena mesa em frente ao sofá...os únicos objectos que compunham a sua sala...beijou-a ao mesmo tempo que premia o gatilho da arma em que segurava.
Deixou este Mundo. Não soube se ela chorou por ele. Não soube se algum dia ela o perdoaria.
A cobardia de perguntar...