Cheguei a casa. Cansada da vida. Cheguei a casa, olhei o espelho e, num acto repentino, quebrei-o. Vi-me pela primeira vez na vida. Vi que sou feita de nada, que sou feita de mil pedaços, possíveis de conhecer, impossíveis de consertar. Vi-me como nunca deixei que me vissem.
Sorri para mim. Disse-me Olá. Respondi. Estabeleci ali um diálogo, saudável diria…um diálogo fácil, de alguém para alguém que me conhece [será?]. Fiquei ali horas. O gato apareceu e cortou-se num pedaço…de mim…as gotas de sangue, vermelho, vivo, mancharam rapidamente o manto branco que o cobre…Soltou uns gemidos [de dor?]. Não lhe liguei.
Peguei eu num pedaço de mim e sorri-me. Sorri-me, da mesma forma que o meu Eu também sorriu. Não tenho pêlo branco, não fico linda como tu ficaste, mas cobri-me dos meus pedaços. Cobri-me e aí sim…fui linda…fui um vermelho vivo, apaixonante, como nunca havia sido. [Queria que me tivesses visto assim…]
Já não estás aqui para me ver. Já não é possível. Mas agora eu sou quem tu sempre quiseste. Grito. Grito. Grito. De dor? De prazer?
Prazer. Prazer. Prazer da dor que sinto. Dor imensa que tornou o quarto num vermelho imenso. O meu corpo confunde-se. Apenas vejo alguns pontos de mim.
O último sorriso.
Vou sozinha.Mas, vou apaixonante.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Grito de Dor
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