Maldita chuva! Ter de andar aqui, na rua, no meio desta multidão, desta confusão...insuportável!
Ela pensava no tempo. Pensava sem sentir, ser dar valor à gota de chuva que lhe percorria o cabelo, o olho, o nariz, a boca. Ela levantava a cabeça, não para sentir o ar fresco de que se protegia, mas para não ir contra ninguém, para não ter de pedir desculpa, para não ter de falar com ninguém. Ela via apenas escuridão, via uma multidão escondida pelo guarda-chuva. Ela estava sozinha e via apenas uma multidão escura, molhada, mecanicísta. Não pensava em mudar.
Ele percorria as ruas da cidade com um sorriso. Ele não tinha guarda-chuva, nem pensava em ter [ouvia um sorrisos, umas "bocas" como que a chamá-lo de tolinho...]. Dá uma gargalhada [toliçe destes míseros mortais]. Ele olhava e via pessoas. Não lhes via a cara, porque essa, essa está escondida, mas via em cada gesto, em cada atitude, em cada modo de andar, em cada guarda-chuva, o segredo de cada um. Olhava a avenida [infinita, infinita]. Sorria. Fechava os olhos. Sentia as gotas molhadas na sua face, sentia-as percorrer cada milímetro do seu rosto até aos lábios, onde rapidamente morriam dentro de si. [prazer]
Ela via, não olhava.
Ele olhava, mas não via.
Talvez se ela não pensasse apenas, talvez se ela sentisse cada momento enquanto percorresse a avenida, talvez tivesse visto nele, alguém diferente dos demais, talvez tivesse sentido prazer. Talvez se ele pensasse e reflectisse o momento, talvez se não sentisse [apenas], talvez assim a tivesse visto, talvez assim, não só a sentisse como ser escondido, com segredos, mas sentisse o seu sexo. Se ela o olhasse...Se ele a visse...
Talvez, talvez...