sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão -- e nada mais!

Antero de Quental

domingo, 4 de novembro de 2007

Quero Ver



Quero ver a Vida...
quero olhá-la e ver sorrisos, abraços, beijos, olhares...
quero!
Mas como, se a minha vida é choro, solidão e dor?
Tento.
Começo a semana com um projecto, direi até um projecto de vida...escrevo-o todos os domingos, na cama, de madrugada, na escuridão de uma pequena lâmpada e, enquanto ela dorme na cama ao lado, escrevo. Olho-a sempre antes de escrever e vejo, vejo descanso, vejo até alguns sorrisos. Sorrio para ela. Ela não vê. Olho então para o papel e sob o som de este ou aquele que, como eu, não dorme e deambula pela rua, escrevo o meu plano semanal.
Escrevo.
Emociono-me.
Sorrio.
Penso. ("eu consigo...")
Escrevo que sim, escrevo que vou, escrevo que já amanhã, escrevo que direi.
E depois, o amanhã vem, e o depois e o depois. E eu faço, digo, sorrio para eles. Retribuem às vezes.
O telefone toca.
"ele voltou, ok?..." ou "eu voltei...vai ser tudo igual..."
Choro. Não quero. Ele magoou-me, a mim, a ti, a eles. Prometes-me isto e aquilo e não cumpres. Digo que não, tu dizes fazer o que quero...mas não é isso que quero!!!
Eu acredito em ti!!Porquê, se me mentes???
Provocou em enredo de mentiras, de dor, de vergonha, de DOR! Desespero!!! Sei que devia viver, mas não vivo...Penso e olho as raparigas da minha idade...os namorados, as saídas, as compras, os amigos, a família, o riso...Que tenho eu disso tudo?? nada...
E se nada tenho, nada sou...é a verdade.
Desespero, eu sei, mas não consigo mais...invejo até amigos que tudo parecem ter...sabes o que isso é?
Chega Sexta.
Nada se cumpriu. Há sempre alguma coisa que atrapalha...que tu provocas.
Ouço, ouço e ouço coisas que não devia.
Vejo, vejo e vejo-te naquele estado.
Faço-me forte, mas choro também.
Culpo-te por isto.
Culpo-te por não veres como estou.
Culpo-te por não me veres.
Volta Domingo.
Terei eu forças para um novo plano?