Não chegou a uma semana. Seis dias. Seis dias
bastaram para que o faz-de-conta acabasse. Pensei que a mentira fosse a nossa
única solução. Pensei. Acreditei ou então quis acreditar. Mas seis dias mostraram
que não. O sexto dia, nesta história, deveria ter outro número ou então deveria
pensar-se numa cor sempre que evocarmos este dia, aquela que quisermos, mas que
mostre a dor que este dia acarretou.
O sexto dia é hoje e hoje é natal. Natal deveria ter
cores fortes, alegres, deveria fazer com que o açúcar nos olhos existisse, pelo
menos neste dia, fosse aos oito ou aos oitenta. Deveria. Sim. Mas toda a
mentira acaba. A mentira não é fácil de suportar e o sexto dia não permitiu que
continuasse. Não me lembrava de doer tanto. Tenho fugido. Muito. Tenho fugido e
feito de conta que as razões dessa fuga são outras. Não são. As razões, essas,
não existem. Uma só se impõe: Tu.
Se, por um lado, foi bom, tão bom, encontrar o
conhecido, sincronizado com aquilo que sou, por outro, pergunto: será que sou?
Será que ainda sou?
Tentei que sim. Mas hoje o dia não me permite falar
só por falar. O dia hoje não me permite sorrir só por sorrir, ouvir-te só por
ouvir. Hoje eu disse-te o que és, quem és, o que fazes e em quem nos
transformaste.
Não, não é tempo do faz-de-conta. É tempo de ouvires
que sim, que sei que és alcoólica e que nada mais consigo fazer por ti. Hoje é
natal. Natal. (Pergunto-me que quererá isto dizer!) Voltaste a dizer-me tudo
aquilo que sempre ouvi. Não sou A tua filha. Não sou quem querias que fosse. Não
sou a minha irmã e mereço vingança. Ouvi hoje. Ontem, o ontem que é todo o meu sempre,
ouvi mais. Não posso dizer-te que te perdoo. Não sei dizer o que sinto. Não
consigo dizer que nada disto me afecta. Não. Mas consigo dizer que fazes de mim
pior pessoa do que aquela que julgo ser. Fazes-me mais mal que bem. E isto dói.
Hoje digo-te que um dia mais pode ser fatal. Hoje
penso que já não choro por ti mas sim pela mãe que perdi há alguns anos atrás.
Tu pouco me dizes. E tentas tantas vezes magoar-me, a mim e aos poucos que
tens. (Tão poucos!)
Deveria a vida ser um ciclo. Curto. Porque este ciclo
já há muito que dura…Lamento que sejas infeliz. Lamento que tentes fazer dos
outros infelizes. Lamento a dor constante nesta família que se une pelo faz-de-conta
ou então por um desejo infantil de que, um dia, tudo mude.
Se o natal é tempo de fé, hoje eu não acredito.
Sexto dia.
O fim.
Fim.